O quem mais impressiona em seu trabalho é paixão de Zapf pela caligrafia tradicional: sua fonte sem serifa, Optima, não foi feita com réguas e esquadros, mas com pena e pincel. Apesar disso, ele não é mais um designer retrógrado—muito pelo contrário, foi um pioneiro da composição e da tipografia digitais. Este post é formado por minhas notas de leitura de História de alfabetos: a autobiografia e a tipografia de Hermann Zapf.
“Vivemos em uma sociedade totalmente mudada, em que o indivíduo aspira a criar sua própria expressão particular [independente da imitação de períodos históricos].” Hermann ZapfZapf nasceu na Alemanha em 1918, ano em que a República de Weimar foi declarada, a gripe espanhola atingia seu age e a fome assolava o país. O sonho do garotinho desnutrido era tornar-se engenheiro elétrico (desde a infância ele brincava com baterias e lâmpadas), mas as condições políticas da Alemanha da década de 1930 não eram favoráveis ao filho de um ex-líder sindical. Ele conseguiu, após muitas entrevistas, uma vaga de aprendiz numa gráfica.

Zapf foi convocado pelas forças armadas em 1939, mas teve problemas cardíacos e foi mandado para um escritório, onde escreveu relatórios de campo e certificados esportivos. Quando a guerra começou, em setembro daquele ano, Zapf foi dispensado, mas foi convocado novamente em 1942, para a artilharia. Ele era muito desajeitado com armas, e acabou sendo mandado para um escritório de cartografia em Bordeaux. No final da guerra, Zapf foi feito prisioneiro num hospital francês, mas foi bem tratado e logo libertado.

Entretanto, o motivo real de sua contratação foi o desenho da nova fonte Novalis Roman, que ele enviara à fundição. A fabricação da Novalis, porém, foi suspensa quando Zapf mostrou o projeto de outro alfabeto, Palatino, que foi produzido imediatamente. A fonte teve sua estréia no ano seguinte, no segundo livro de Zapf, Feder und Stichel (Pena e buril), uma coleção de alfabetos e exemplos de caligrafia do próprio Zapf, que teve grande aceitação na Europa e nos EUA.

Nos anos 1960, Zapf mudou-se para os EUA, onde ministrou disciplinas de caligrafia e design de livros a convite da Carnegie Tech. Nessa década, ele fez várias fontes para a Hallmark Cards, e participou de um filme didático sobre caligrafia chamado The Art of Hermann Zapf.
Zapf presenciou entusiasmado o início da composição digital, mas suas idéias para ela não foram levadas a sério na Alemanha. Em 1964, ele falou aos estudantes de Harvard sobre layout e tipografia no computador, prevendo eventos que só se tornariam realidade 20 anos depois, com o Macintosh.
Já em 1965 Zapf começou a experimentar com programação, buscando formas de se obter composições sofisticadas de forma automática. Nos anos 70, Hermann Zapf criou uma série de fontes digitais para a empresa do Dr. Rudolf Hell, criador do computador-diagramador pioneiro Digiset. Ele também fundou, com Aaron Burns e Herb Lubalin, a DPI, companhia que criava softwares de formatação textual simplificada para escritórios.
Nos anos 1980, Zapf desenvolveu, junto com a empresa de informática URW, o hz-Program, software de composição que alcançava a justificação perfeita, com poucos hífens e sem espaços grandes entre as palavras. A Adobe adquiriu a patente do hz-Program nos anos 1990, e usou alguns de seus conceitos no InDesign.
Hermann Zapf pronunciou-se também contra a pirataria, não apenas na distribuição indevida de fontes, mas também no plágio de trabalhos inteiros, como no caso da Monotype Book Antiqua, cópia da Palatino. Por causa disso, ele renunciou ao posto de membro fundador da ATypI (Association Typographique Internationale).


O site de Hermann Zapf, em alemão, é hermannzapf.de.
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Nas próximas semanas teremos mais resumos de livros sobre tipografia e design, enquanto o trabalho propriamente dito não começa.
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