sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Helvetica + Xilografia = Helwoodica

Helvetica: fonte onipresente que é o maior símbolo do Estilo Internacional (grids, linhas retas, poucas cores e ênfase na tipografia).

Xilografia: técnica milenar de impressão relevográfica que sobrevive humildemente no território cinzento entre design e artesanato.

Nós: designers atrevidos que tentaram unir os dois elementos acima.



A fonte gratuita Helwoodica é o primeiro resultado da nossa incursão pelo mundo do feito a mão. Tentamos demonstrar que técnicas como a "xilo" ainda podem ser usadas hoje em dia, e não apenas em resgastes vernaculares e tradicionalistas.

Helwoodica, que alcançou 20 mil dowloads em quinze dias,  ainda está incompleta (falta a caixa alta e, sim, o kerning não é dos melhores), mas já é um primeiro passo para mostrar o que se pode obter com a aplicação da produção artesanal no design. Baixe-a agora!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A litografia e a influência das ferramentas no design

Alguns designers passam a vida combatendo os micreiros, pessoas que acham que ser designer é saber usar os programas da Adobe. Para os primeiros, o design verdadeiro está muito além do computador e, mesmo sem o PC, é possível criar peças funcionais e belíssimas, citando mestres como Aloísio Magalhães ou Paul Rand.

Obviamente, concordamos que o computador não é tudo (afinal, demonstrar a importância do trabalho manual no design é o tema deste projeto), mas não se pode negar que as ferramentas usadas pelo designer têm um poder imenso sobre produto resultante. Seria possível fazer a (literalmente) brilhante marca da Globo sem o Photoshop?

Esse preâmbulo foi para falar da litografia, técnica de impresão plana  que revolucionou a imprensa e redundou num dos processos gráficos mais usados, o offset. No belo livro organizado pelo pesquisador Rafael CardosoO design brasileiro antes do design - aspectos da história gráfica, 1870-1960, a chegada da impressão com pedra no Brasil Imperial é destrinchada.

A litografia permite uma vasta gama de tonalidades e coloca texto e imagem no mesmo plano, diferente da tipografia e da xilografia, técnicas então mais usadas no país. Os designers puderam experimentar com a imagem, muito importante não só por que ajudava a destacar e diferenciar o produto, mas por que a maioria dos brasileiros (84%, segundo o livro) era analfabeta.

As populares revistas semanais se usavam de desenhos produzidos com a técnica para chamar a atenção do público e embelezar suas páginas. Só mais tarde, na década de 1920, com revistas como A Maçã e Para Todos..., as imagens deixaram de ser apenas ilustrações para atuarem como coadjuvantes do texto na comunicação.

Como o mercado era muito movimentado e as poucas escolas técnicas (e artísticas) não davam conta de suprir o mercado com profissionais, em 1820, litógrafos de várias nacionalidades vieram para o Brasil, trazendo para nossos produtos tendências contemporânes como a presença da natureza e o bucolismo da art noveau.



Em 1870, o mercado progrediu com a chegada de impressoras litográficas a vapor. A divisão de trabalhos da era industrial atingiu as gráficas, e logo a figura do artista gráfico (ou litógrafo) se delineou: um profissional que se ocupa apenas da criação, e não mais de todo o processo de produção.

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A tecnologia realmente molda o design, mas não impede que os profissionais procurem outros meios de criação. Em breve você verá aqui fontes desenvolvidas com processos elementares, como o uso de carimbos, mas que conferem a qualquer trabalho um caráter diferenciado. Clique aqui e receba as atualizações do Fonte Artesanal por email ou em seu leitor de RSS.

sábado, 13 de setembro de 2008

A biotipografia de Hermann Zapf

Prestes a completar 90 anos, Hermann Zapf continua trabalhando com o que mais gosta: tipografia. Este calígrafo, tipógrafo e designer de fontes alemão criou Palatino, Optima, Zapfino e outras fontes muito conhecidas.

O quem mais impressiona em seu trabalho é paixão de Zapf pela caligrafia tradicional: sua fonte sem serifa, Optima, não foi feita com réguas e esquadros, mas com pena e pincel. Apesar disso, ele não é mais um designer retrógrado—muito pelo contrário, foi um pioneiro da composição e da tipografia digitais. Este post é formado por minhas notas de leitura de História de alfabetos: a autobiografia e a tipografia de Hermann Zapf.

“Vivemos em uma sociedade totalmente mudada, em que o indivíduo aspira a criar sua própria expressão particular [independente da imitação de períodos históricos].” Hermann Zapf
 Zapf nasceu na Alemanha em 1918, ano em que a República de Weimar foi declarada, a gripe espanhola atingia seu age e a fome assolava o país. O sonho do garotinho desnutrido era tornar-se engenheiro elétrico (desde a infância ele brincava com baterias e lâmpadas), mas as condições políticas da Alemanha da década de 1930 não eram favoráveis ao filho de um ex-líder sindical. Ele conseguiu, após muitas entrevistas, uma vaga de aprendiz numa gráfica.

Nos anos seguintes, Zapf aprendeu sozinho caligrafia e lettering, e mudou-se para Frankfurt, onde, trabalhando numa gráfica, criou suas primeiras fontes, para notação musical. Na cidade, ele entrou em contanto com as fundições Stempel e Linotype, e projetou a fonte gótica Gilgengart, pela qual recebeu uma ninharia.

Zapf foi convocado pelas forças armadas em 1939, mas teve problemas cardíacos e foi mandado para um escritório, onde escreveu relatórios de campo e certificados esportivos. Quando a guerra começou, em setembro daquele ano, Zapf foi dispensado, mas foi convocado novamente em 1942, para a artilharia. Ele era muito desajeitado com armas, e acabou sendo mandado para um escritório de cartografia em Bordeaux. No final da guerra, Zapf foi feito prisioneiro num hospital francês, mas foi bem tratado e logo libertado.

Em 1946, Hermann Zapf começou a dar aulas de lettering, em condições muito precárias. Seus alunos, porém, estavam muito entusiasmados pela chance de um recomeço profissional. Em 1947, ele tornou-se diretor de artes gráficas da Stempel, onde publicou seu primeiro livro, uma monografia sobre o líder do Arts & Crafts inglês, Willliam Morris.

Entretanto, o motivo real de sua contratação foi o desenho da nova fonte Novalis Roman, que ele enviara à fundição. A fabricação da Novalis, porém, foi suspensa quando Zapf mostrou o projeto de outro alfabeto, Palatino, que foi produzido imediatamente. A fonte teve sua estréia no ano seguinte, no segundo livro de Zapf, Feder und Stichel (Pena e buril), uma coleção de alfabetos e exemplos de caligrafia do próprio Zapf, que teve grande aceitação na Europa e nos EUA.

Em 1954, ele desenhou o tipo árabe Alahram Arabic, depois conhecido como Palatino Arabic. Em 1958, outra fonte de sucesso foi lançada: a Optima, uma sem serifa de proporções clássicas e variações de traço caligráficas.

Nos anos 1960, Zapf mudou-se para os EUA, onde ministrou disciplinas de caligrafia e design de livros a convite da Carnegie Tech. Nessa década, ele fez várias fontes para a Hallmark Cards, e participou de um filme didático sobre caligrafia chamado The Art of Hermann Zapf.

Zapf presenciou entusiasmado o início da composição digital, mas suas idéias para ela não foram levadas a sério na Alemanha. Em 1964, ele falou aos estudantes de Harvard sobre layout e tipografia no computador, prevendo eventos que só se tornariam realidade 20 anos depois, com o Macintosh.

Já em 1965 Zapf começou a experimentar com programação, buscando formas de se obter composições sofisticadas de forma automática. Nos anos 70, Hermann Zapf criou uma série de fontes digitais para a empresa do Dr. Rudolf Hell, criador do computador-diagramador pioneiro Digiset. Ele também fundou, com Aaron Burns e Herb Lubalin, a DPI, companhia que criava softwares de formatação textual simplificada para escritórios.

Nos anos 1980, Zapf desenvolveu, junto com a empresa de informática URW, o hz-Program, software de composição que alcançava a justificação perfeita, com poucos hífens e sem espaços grandes entre as palavras. A Adobe adquiriu a patente do hz-Program nos anos 1990, e usou alguns de seus conceitos no InDesign.

Hermann Zapf pronunciou-se também contra a pirataria, não apenas na distribuição indevida de fontes, mas também no plágio de trabalhos inteiros, como no caso da Monotype Book Antiqua, cópia da Palatino. Por causa disso, ele renunciou ao posto de membro fundador da ATypI (Association Typographique Internationale).

Em 1947, Zapf criara a fonte Virtuosa, baseada num esboço caligráfico de 1944. Fontes caligráficas eram comprometidas, porém, pela falta de flexibilidade e pela limitação de espaço na composição em tipos de metal. Em 1998, porém, com as novas tecnologias digitais, 4 alfabetos intercambiáveis da fonte Zapfino, baseada no mesmo esboço que a Virtuosa, foram lançados. Alguns anos depois, o formato OpenType possibilitou ainda mais variações no uso da Zapfino.

Nos anos 2000, Zapf e Akira Kobyashi, diretor de criação da Linotype, criaram novas versões de Optima, Palatino e outras de suas fontes, e ainda a Palatino Sans.

O site de Hermann Zapf, em alemão, é hermannzapf.de.

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Nas próximas semanas teremos mais resumos de livros sobre tipografia e design, enquanto o trabalho propriamente dito não começa.

sábado, 6 de setembro de 2008

Bem vindo ao FonteArtesanal!

O trabalho do designer de hoje depende muito do computador, que lhe oferece milhares de possibilidades em poucos cliques. Mas eu acredito que pode se fazer melhor se não nos esquecermos da herança do trabalho artesanal e das alternativas que ele oferece quando combinado com as ferramentas digitais.

Comprovar que a união do digital e do artesanal dá certo é o objetivo do projeto da pesquisa “Do Artesanal ao Digital: Possibilidades de Tipografias Experimentais”, do estudante de design gráfico Felipe Dário, orientado pelas professoras Graça Costa e Patrícia Arruda e financiado por bolsa oferecida pelo CEFET-PE.

Um dos primeiros resultados desse pensamento foi a fonte FD Helwoodica, disponível para download gratuito. O desenho da onipresente Helvetica foi gravado em madeira, impresso xilograficamente e então digitalizado.

Eu, Felipe, vou postar aqui resumos de livros clássicos sobre design, tutoriais de criação de fontes, técnicas tradicionais de criação manual, aquelas que vamos tentar desenvolver e ainda fontes gratuitas criadas durante o projeto.

Se você também acha que pode aprender mais cortando papel, se melando com tinta e, acima de tudo, queimando os neurônios para criar produtos originais, clique aqui para receber novos posts por email ou no seu leitor de notícias preferido.
 
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